terça-feira, 22 de setembro de 2015

Histórias C'o Ti Diano II


O dia já desaparecia embrulhado numa névoa doce, de figos maduros e uvas passas.

O Ti Diano ofegava, no seu passo lento e ritmado de regresso a casa.
O arrastar do corpo como o de um militar no fim de uma batalha. A camisa por fora das calças, desabotoada e suja. A cara tisnada com o pó transformado em lama pelo suor.
As mãos negras e grossas.
A enxada encostada ao ombro como uma arma.

Eu fazia os deveres da escola, debruçado na laje que servia de varanda ao cimo das escadas.

- Estuda rapaz! Estuda para seres um homem  — desabafava o Ti Diano, sem nunca olhar para mim.

E eu ficava à espreita, atento à sua marcha triunfal depois de um dia inteiro de trabalho, pensando que um dia seria como ele.




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