terça-feira, 22 de dezembro de 2015

percurso poético IV




A história começa de uma maneira pouco usual...

Ninguém sabia o nome do homem que ali estava, discursando no meio da praça e seguido atentamente por dezenas de pessoas.

Não era padre nem pregador.
Não era politico, não era candidato e muito menos presidente de Junta.
Não era dirigente associativo nem de nenhum clube desportivo.

Mas certamente que tinha o dom da palavra.
Com o evoluir do discurso mais gente se acumulava em seu redor. E os que o ouviam, ficavam, sem pressa e sem compromissos de maior importância. Notava-se nos seus rostos um prazer único por cada palavra recebida.

Investiguei o caso com relativa curiosidade.
Questionei algumas pessoas da multidão, que de tão atentas nem deram conta da minha presença.
Entrei no café central, onde as noticias surgiam em primeira mão pela boca dos clientes, mas quase todos tinham já acorrido à praça e o dono, pobre capitão do navio proibido de o abandonar, lastimava-se inconsolável por também permanecer na ignorância.
Indaguei um taxista que aguardava cliente dentro do carro. Contudo, após estrebuchar do seu sono, limitou-se a observar ao longe o ajuntamento inesperado no largo da praça, revelando maior surpresa que a minha.

Até que, numa corrida fugaz, serpenteando os homens e as mulheres estacados em pé, passaram  a meu lado duas crianças esbaforidas. Agarrei o braço de uma delas e perguntei:

- Ouve lá rapaz, sabes quem é aquele senhor ali no meio?

Ao que ele me responde, ainda meio assustado:

- Dizem que é um poeta!





rla

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